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Primeira aula de teatro do ano.
Eu já estava sentindo falta, pois pra mim é uma terapia. Nunca fui um bom ator - talvez a timidez nunca me permitirá tal proeza -, mesmo assim, não consigo parar de "tentar". Pensando bem, acho que minha vida sempre girou em torno disso, de nunca parar de tentar, apesar de eu ser um total fracasso em quase tudo que faço.
Várias pessoas novas apareceram, curiosas, para ver como seria a aula. Observei atentamente o público de faces estranhas. Um dos rostos me chamou a atenção. Era de um moço pálido, que parecia ter mais ou menos uns 4 anos a menos que eu. Exalava ingenuidade e pureza. Seus traços simplesmente não desgrudavam de minha retina - tive que me conter e voltar para a realidade.
Tínhamos que formar duplas para um novo exercício cênico, e por uma sorte bizarra, digna de filme hollywoodiano, a minha dupla acabou sendo ele. O exercício simplesmente não poderia ter sido outro - o do "espelho". Cada um tinha que imitar exatamente o que o outro estava fazendo, cada movimento, por mais sutil que fosse. Fui, portanto, obrigado a me concentrar em cada parte do seu jovem e saudável corpo. Minha mente fez o possível para não romantizar demais o que estava acontecendo. Mas no assunto "devaneios" sou um caso perdido.
Romântico irrecuperável que sou, fiquei esperando que os olhos dele dissessem algo. Porém não havia nada neles que eu pudesse ler. O seu próprio vazio já traduzia a minha nova derrota... Aliada a uma antiga frustração.