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Nostalgia infiltrada nas veias qual antídoto. Antídoto pra curar do tédio e da espera. Angústia sem razão, e razão sem ela mesma. Estou seguindo direitinho o formulário, senhor? Sim, senhor. Não, senhor. Está certo. Vou tentar de novo, prometo me sair bem dessa vez, ok? Por favor, dê-me mais essa chance. Coçar o braço nunca me foi tão delicioso. Como é bom escrever mal. Não te dá uma liberdade? A mim dá, uma sensação falsa de estar livre, mas mesmo assim continua sendo uma sensação, e isso já me basta, pelo menos por hoje.
É muito estranho, depois de anos de costume à frieza e aparente indiferença de certas pessoas, começar a desenvolver uma relação de amizade com elas, principalmente se forem seus parentes. Parece que alguém foi trocado, que algum cérebro foi muito bem lavado. Espero não ter sido o meu, mas quase certeza que foi. Coração volúvel qual água; não se agüenta em suas formas. Evapora, mal percebe. Vira lixo e aproveita. A caricatura já está desenhada, de qualquer jeito.
Fim de festa, malas prontas novamente.

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Ah, o ócio. Bela atividade do nada. Não ser, não estar, não fazer... Fico grato por poder existir, apenas para desfrutar destes momentos de não-existência. Escrever muito sem dizer coisa alguma. Falar - outra atitude dispensável. Não tenho palavras que lhe sirvam, caro leitor. Nem a mim me sirvo direito; apenas continuo tropeçando por aí. Falta de imaginação, falta de inspiração, falta de companhia. Falta, bela, cruel e simplesmente.
Preciso ficar bem acordado por mais alguns minutos, por mais tarde que seja. Culpa da ansiedade e do pânico - só consigo pegar no sono se estiver morto de cansaço. Estou farto de tudo isso. Assim como minha alma é velha, eu também gostaria ter as doenças do século retrasado, e não as do meu. Nem sei por que estou falando sobre isso, de qualquer modo. Deixa estar.
Arrumar as malas novamente e preparar-me. Para um novo tom de cinza.