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solidão.

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E os olhos, esses olhos que não querem fechar. Em mim tudo tem vontade própria. Menos eu mesmo. Os ossos da face, cansados, dizem-me que já não sou mais tão novo assim. Olheiras escuras que não mentem. Deixa estar, não há nada a esconder. O único que não enfraquece é o coração, maldito. Pelo contrário - fica cada vez mais resistente. Assim como o cérebro, que acompanhando o caminho inverso, cada vez raciocina menos. Apaixono-me mais uma vez, como se eu tivesse começado a existir hoje de manhã. E não consigo voltar atrás... Afinal, essa coisa de burrice tem que fazer algum sentido, pelo menos.
A conclusão? O sentido pra tudo isso que escrevo? Estou procurando nos bolsos, nas gavetas, no paletó, no maço. Não está em lugar nenhum. Juro que os tinha visto ontem mesmo, bonitinhos. Mas me escaparam, de novo. Danados.

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- Oi, há quanto tempo!
- É mesmo, né... E aí, tudo bem? Como tá?
- Estou bem, e você?
- Ah, não muito, na verdade... Engraçado, eu sempre tenho te dito isso, nas poucas vezes que nos temos visto.
- Você diz isso desde que eu te conheço, para dizer a verdade.

(vida que mata, morte que vive)