59

você tira fotos minhas
e arranca-mas do peito
sem dó nem piedade
nem si bemol em sétima.

com suave música ao fundo, ouço-te dizendo-me: eu te amo. sua voz tão delicada parece soar em itálico: eu te amo. deliciado, navego pelos teus enigmas eriçados, tua poesia sem fundamento. acordo no meio da noite, surpreso, aturdido pelo barulho um tanto incômodo de meu coração batendo. assusto-me, escrevo e volto a dormir. 
eu demoro a pegar no sono como alguém que tem a vã esperança de que isso prolongue o dia. sem glórias que tenha sido, ainda é um dia. e um dia é algo que a gente perde pra sempre.

58

modernidade

melão col(h)ia
a abóbora amassada
pela infinita tristeza:
o spleen
dor
de Paris
et la beau 
de l'air.

57

(...)
- Não, eu não quero ir. Você não pode me obrigar!
- Desculpe, senhor, mas não há alternativa. Por favor, acompanhe-nos até aquela outra sala.
- Não, não vou! Me larga!
- Senhor, facilite as coisas pra nós.
- Me solta, porra!
- Facilite pro senhor, também. Não há mais nada a fazer.
- Seus desgraçados, desgraçados!
(...)

- O senhor não sairá daqui até começar a pensar e agir por si próprio. (som de porta trancada)
- O QUÊ? NÃO! me deixa sair! me deixa sair! ME TIRA DAQUI! POR FAVOR, EU FAÇO QUALQUER COISA, MAS ME TIRA DAQUI!