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óleo sobre tela. o começo não é quando você nasce; é quando eu te encontro. em poucas horas te construo: do rascunho à tinta, perfume e desentendimento, você aparece parado na minha frente. sem borrões. as horas de silêncio e tédio lutam para não te engavetar, e enquanto o nanquim seca eu já não te reconheço mais. entre uma camada e outra de pó, a paciência. não há pressa.



eu espero você existir.

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- eu tiro os óculos pra te enxergar, eu quero mesmo é arrancar as tripas fora. talvez, assim, você também veja algo. e não adianta costurar tudo depois, você sabe, ah, como sabe... vai rasgar de novo. eu nem tento mais segurar, quero mesmo é sangrar no chão. menstruar na tua cara. acabar com esse rosto, que é meu também. pintar minhas unhas com a saliva que corre solta. te afiar com estilete e te guardar no bolso.
- ponha os óculos de volta.

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vai chegando ao fim, vai vai
essa bossinha assim, ô vai
chega mais perto que essa vida é sem motivo
um beijo a mais, te deixo em paz
vai chegando ao fim, sim, vai
tudo aqui e tudo em mim