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uma sala escura, entornada de escadas espirais, grossas, fortes. um piano quase inútil é tocado por uma senhora enquanto ouço a conversa deles, absorto e reacordado a cada batida nas teclas já arfantes. não presto atenção a uma palavra sequer. perco-me na barba de um dos presentes. perco-me na cara inteira dele, na verdade. seus traços me são de uma familiaridade que finjo ignorar para não enlouquecer. o olhar, a inclinação dos dentes ocres, até mesmo o padrão seguido pelas linhas de sua expressão. volto para a barba, a única que foge desse espelho insuportável, salpicada de cinzas. redemoinhos são formados em suas bochechas, deixando emergir a noite estrelada em seu rosto e em minha memória.