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Sim, sim, caro leitor inexistente. Chegamos ao treze. Superstição e idiotice. Ênfase, por favor, na idiotice. Como poderia eu, por um segundo sequer, ter me atrevido ao devaneio de que desta vez algo sorriria para mim? Vivo me enganando, sempre com a cega esperança de que o treze nunca vai chegar, nunca me alcançaria, pensava eu. Mas nada que existe me escapa. E hoje, aqui sozinho nesse quarto pálido, sinto encravando-me as unhas na pele a crua existência de tudo e ao mesmo tempo de nada. A nojenta, maldita, repugnante às vezes. Prostituta que em meus sonhos é donzela, sonhos meus também malditos. Culpa é primeira infância que nunca há de se conformar. Parece que não tenho memória. Ingenuidade traidora!
Ao menos, pensando bem, não tenho memória racional. Meu cérebro registra sensações, enquanto as imagens nítidas e as informações ficam embaçadas, bem no fundo, insignificantes. Mal aparecem quando fecho os olhos. Só me vem o arrepio de volta, a vontade, o instinto despertado por uma experiência rotineira qualquer. E depois aquela felicidade imbecil, por ter relembrado algo ocorrido apenas dentro da minha mente, cuja realidade cínica é tão bem representada que na maioria das vezes até caio nessas minhas brincadeiras de criança sozinha no mundo.
Parabéns, seu idiota. Isso, isso mesmo, perca mais 20 anos da sua vida deste mesmo modo. Continue brincando com esse fogo de que você gosta tanto, mesmo sabendo que pouco - quase nada - resta de suas mãos cheias de bolhas, em carne viva, latejando e ardendo. Continue, veja até onde chega e depois me conte. Sim, depois me conte, pois cansei de ser sua consciência. Abandonar-lhe-ei por alguns instantes. Só comprei passagem de ida. Quem sabe um dia você não tenta procurar por onde ando. Afinal, a esperança não é mesmo a última que morre? Espero estar muito bem morta antes disso.

Um comentário:

lidia. disse...

incrívelmente expressivo e bem escrito !