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Vazio completo em meio a esse som irritante. Som insuportável de vida pulsando, inerente, desimpedida. Ouço vozes e não me esforço para reconhecê-las. Meus sentidos se aguçam, no mais inevitável instinto, e luto para reprimi-los. Sei que não há objetivo no reconhecimento. Afinal, sempre que reconheci algo, decepcionei-me. Nunca foi diferente e talvez nunca será.
Esta é a minha meta: absorver o início das coisas. Estou cansada de meios-dias, de segundos beijos e cigarros acabando. A música que se declina em sua metade, o enredo revelado, as peripécias desfeitas. O meio do caminho. A pedra. Maldita pedra... Não quero encontrá-la nunca mais. Quero ficar na primeira página do livro, eternamente, bebendo cada palavra, até a última gota. E ao fim, rasgar os capítulos seguintes, pois se há algo que aprendi, é que eles não servem para absolutamente nada.
Não passar do começo é meu desejo e também minha sina.

Um comentário:

Davi Machado disse...

Fiquei com a curiosidade de ver o primeiro.
Muito interessante, revoltado.