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- Por isso que eu fico triste. Quando estou em uma festa, todos ao meu redor estão felizes, completos. Sorriem como se a festa fosse regra, não exceção. Às vezes penso que simplesmente se esqueceram de como é ser triste, como é estar sozinho no mundo, pulsando. E eu estou lá também, mas ainda tenho consciência de mim, o dia inteiro não sai da minha mente a sentença que é existir.
- É bem mais fácil pensar nos outros. As pessoas se sentem confortáveis apenas com o fato de saber que estão inclusas em algum lugar...

Eu estava ouvindo este diálogo entre duas garotas que estavam sentadas atrás de mim no ônibus. Só ouvi até aí, porque o que elas diziam identificava-se tanto comigo que eu não suportei ouvir mais nada. Coloquei a música no máximo e os fones quase estouraram meus tímpanos, mas ainda assim era melhor que encarar a verdade. Só o fato de pensar nisso, ou pensar em pensar nisso... Já me deixa angustiado. Não, não quero. Não agora, por favor. Passei o resto dos quarenta minutos olhando para aquele chão sujo que estava parado, mas se movendo.
Andar de ônibus me enjoa mas sou obrigado a fazer isso todos os dias. Olhar para pessoas estranhas não é ruim, ser nulo não me é uma novidade. Apenas gostaria de saber como ocupar minha mente enquanto minha casa não chega. As aulas apenas voltaram e estou cansado como se houvesse acabado de sair de uma revolução. Irônico, como o resto do que me acontece. Ser medíocre é tão cansativo quanto ser intelectual. Aliás, tudo tem me cansado nos últimos tempos. Quando durmo não sonho mais.
Se ainda escrevo, é porque o que me resta são os atos inerentes a mim. Ler. Respirar nicotina. Escrever o que era pra ser dito e expirar o ar do corpo tão novo, e já tão exausto.