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Sinto-me como se fosse um absurdo estar bem. Fico estranho quando não há nada de errado. É a este nada que me resumi, caro leitor imaginário. Sem relatos, sem mundo exterior, sem imaginação. Apenas sensações, somente o registro do que ficou - eu e meu corpo plasmado. Volto ao estranhar: sentir medo da chuva que vinha me deu um prazer que há muito não me atingia. E o medo inocente me lembrou que estava faltando o medo doentio, e este veio imediatamente cumprir presença. E lá se foi meu dia de novo.
E o não estar apaixonado por ninguém. Vive-se em independência, afinal? Só o que vi até agora foi caos. E a falta de sonhos - passar o dia tentando vivê-lo, e se sobrar tempo, reciclar algum delírio deixado de lado. E o desinteresse, ah, essa falta de apego que se defronta a todo segundo com a minha carência patológica. E esses dias. Essas horas. Em que o foco se perde, a infância volta, e a pele grita. Ânsia. Um dia eu volto pra mim mesmo. Prometo-me.

6 comentários:

Ciro Cruz disse...

Tanto tempo mal que bem é uma exceção, uma anomalia...
Também pretendo voltar para mim, se eu conseguir me lembrar como é o rosto por detrás de todas aquelas máscaras.

Camila S. disse...

O ruim de tentar voltar pra si mesmo é que a inocência nos faz jogar migalhas de pão pra encontrar o caminho de volta, e esse mundo está cheio de pombos.

Anônimo disse...

Shine on you crazy diamond!

Alisson da Hora disse...

Solidão é uma espada em contínuo combate.

Bu disse...

Gostei tanto desse texto. Não sei me explicar [tava escrito 'pare de pensar e escreva']. Eu não sei se voltar pra si mesmo é uma grande coisa. Talvez esse seja o problema ou esteja relacionado a isso. e é melhor olhar pros outros ou se voltar pra si mesmo.

É bonito.

Jiquilin disse...

sua catarse é parecida com a minha...
Solidão é universal! carência, como eh isso de patológica?