124

Com dores cada vez mais fortes na nuca, ela continuou na mesma posição até terminar a leitura de um livro fininho e, ao mesmo tempo, pesado. Não queria fazer grifos, ou comentários ao pé das páginas. Não sentia a incontrolável ansiedade de transcrever trechos para afixá-los nalgum canto do cérebro. Ou pior: era ausente nela, da mesma forma, aquela ponta de vontade de--
- E aí, Luiz, beleza?
- Oi, Clara. Beleza e aí?
- Tô bem. Cê num sabe o livro que li ontem--
Aquele estar nos outros, aquele sobreviver nos outros, aquele--
- Puts, tenho um monte de coisa pra ler, uns filmes que baixei pra ver,
- É, tamo junto, tempo é nada,
- Como é que a gente faz?--
Estava morta, enterrava-se em seus banhos, em seus ônibus, cobria-se de pessoas.Exercia a memória, deixava a náusea vir.

3 comentários:

Paulo Costa disse...

Às vezes vejo você nos seus textos

F. Carolina disse...

...E vomitava a realidade.

#tempo é nada.

Beijo.

Fred Caju disse...

Presente por aqui também.