um dois um

Acordou ofegante, sob o bálsamo de seu suor pegajoso - acordou mulher - e não conseguiu enxergar que horas eram. Enfiou os olhos no escuro e sentiu, por um momento, que a superfície deles poderia se romper se olhasse mais a fundo:
Não, não há nada. Volta a dormir, vai, volta.
Não consigo.
Começava a gemer, sem nenhum controle sobre seu corpo, como se o simples produzir de som fosse lhe trazer alguma paz. Revirava-se nos lençóis manchados de sal e um tanto de sangue. Na maioria das vezes, o cansaço a vencia.
Naquela manhã, a sensação de muitas outras: Um sonho pesado, mais real que o acordar. Sonho febril, úmido, interminável e completamente excitante. Levantou, estalando os joelhos, em busca da prateleira mais próxima:
Não tem muita poesia aqui.
Pegou um dos volumes da estante e atirou-o à cama. Será que esse eu leio no ônibus sem querer vomitar?
(Será que algum livro na vida eu leio sem querer colocar as entranhas ao ar?)

Um comentário:

Fred Caju disse...

Ainda bem que tem muita poesia aí.