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Nada como uma experiência traumatizante pra me acordar desse coma estúpido.
Fui enganado pelo único parente que considerava meu parente de verdade. Era a única pessoa digna o suficiente desta classificação. Por alguns segundos, não consigo acreditar que isso simplesmente aconteceu. Não há mais volta, agora, não importa o quanto eu queira transformar tudo isso num produto da imaginação podre que eu possuo. Cada vez mais eu me sinto convencido de que mereço isso tudo que está acontecendo. Preciso reconhecer, de uma vez por todas, que o outro não é tudo. Por mais que eu deseje que seja. Nunca tive coragem suficiente para reconhecer o indivíduo que em mim habita. Mas agora, não resta outra opção, pois todos aqueles nos quais eu me apoiava para continuar a falsidade que eu chamava de vida, todos estão indo pra longe, um por um, inevitavelmente.
Não adianta continuar querendo ser um parasita, pois não há mais nenhuma vítima. Nenhuma pessoa a mais, de quem eu possa sugar um pouco de vida e fingir plena satisfação. Sei perfeitamente o que preciso mudar, apenas ainda não descobri como fazê-lo. E até isso acontecer, o pior será continuar respirando e pensando. Difícil é saber o que é pior - reconhecer mil defeitos ou estar vivo enquanto tento mudá-los. Daria tudo por um segundo de paz. Daria tudo por um cigarro.

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