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Já acordo com aquela sensação estranha. Cabeça vazia, apenas observo o que está à minha volta, com uma certa tristeza em ter despertado. Percebo, contrariado, que a beleza ainda está nas coisas que vejo, e sinto raiva. Seria bem mais fácil permanecer triste se tudo fosse um pouquinho mais feio. Estou tentando escrever sobre a beleza das coisas, é isso? Devo estar doente... Não, estou bem. Apenas sou um péssimo escritor.
Que vergonha.
Cheguei ao fundo do poço e lá não há ninguém para cumprimentar. Tudo bem, se houvesse eu não conseguiria dizer oi, tão tímido que sou. Estou sozinho numa casa espaçosa, convivendo com parentes que não fazem muito esforço para me entender. É como se eu falasse uma língua muito difícil de se aprender, então eles vão se virando como podem. Aliás, sinto-me assim também quando escrevo. Será que alguém está me entendendo? Ou, pelo menos, tentando me ler? Tenho quase certeza que não. Mas não posso mais me conter. Escrevo terrivelmente e me recuso a seguir novos padrões estipulados para a acentuação e ortografia da língua que falo, ou finjo falar. Um computador é a única ferramenta de que disponho no momento, e por isso tenho que me submeter, por mais que odeie qualquer manifestação concretizada de evolução humana. Odeio qualquer tipo da chamada "tecnologia". A maldita.
Sempre tive raiva dela. Abomino seus mp3, seus e-books, suas telas-planas. Daria tudo para estar utilizando, no momento, uma máquina de escrever. E mais uma vez ela me pregou uma peça. Só que essa é diferente, veio em forma de pessoa. Conheci uma, pela internet. E desde o dia em que a "conheci" estou vivendo a verdadeira forma do platonismo. Só tenho acesso às coisas que ela escreve, e às vezes parece que não preciso de mais nada. Em outras, tenho a sensação de que tudo me falta. Estou sendo piegas de novo, merda.

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