36

Caro leitor, escrevo-lhe hoje esta humilde carta, endereçada também ao meu inconsciente.
Percebendo minhas cicatrizes, vejo que pouca coisa está mudada. Nada se aprofunda assim como também nada se cura. Eu, que já me considerava um verdadeiro... Um verdadeiro o quê, mesmo? Deixa estar. Minha máquina de bombear sangue está cansada, tão cansada que poderia parar a qualquer momento, não tem retorno, não tem pagamento. Trabalha de graça e quer greve, uma greve faminta, violenta e estarrecedora. Enquanto observo a pornografia do cotidiano, vou fazendo o que posso para impedir uma rebelião. E assim os dias se emendam e cada retalho torna-se um pouco mais digno e um pouco mais insuportável. Por hora é isso, meu amigo. Despedidas me doem, então fique aqui. Não fuja do meu cérebro mais uma vez, fique aqui bem perto, que nunca me foi tão pungente a solidão de si mesmo.

5 comentários:

Ciro Cruz disse...

E mesmo querendo (e as vezes ameaçando entrar em) greve, essa "máquina de bombear sangue" nunca cumpre as ameaças, bombeando sem parar, sangue e sentimentos que fogem do nosso controle e pintam nosso cotidiano desbotado com cores que apesar de vibrantes, nem sempre são felizes...

Bu disse...

Eu gosto muito do jeito que você escreve :)

Amanda I.P disse...

Adoro suas escritas, como adoro vc!!!

Alisson da Hora disse...

A responsabilidade da solidão é implacável...

:***

Anônimo disse...

Aline destrói, de tão bem que escreve. Pena que a frequência de seus textos cai exponencialmente...