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roer as unhas até aparecer uma ponta de alma. até não sobrar mais nada. é com os ossos que me dirijo a ti, com muito amor. ah, sim, meu caro. tu não sabes da felicidade que sinto por estar aqui. por celebrar novamente contigo a minha ausência de palavras e inspiração. a fantasia do cérebro, seu fetiche em ser apenas objeto, acessório de decoração, estofamento do esqueleto que também tem andado sem muita função. afasia e delírio, chames como quiseres - a questão é que não tenho mais gênero, não agora, pelo menos. por enquanto vou pulando de palavra em palavra, como um pesadelo que não quer acabar pois sabe que quando acabar vira morte e aí acaba pra sempre.
mas eu acabo acordando. e a lembrança vem, familiar e assustadora, seria uma pré-regressão? um saco cheio de olhos e, ao fundo, música clássica tocando. não. não pode ser mais que um produto de minha pobre imaginação. tenho medo. de nunca me lembrar, por favor, segura a minha mão. porra, já não é humilhação suficiente eu ter que te pedir todos esses favores? lê meus pensamentos, eu te imploro. estou cansado. falar é triste. a fala é uma de minhas piores tragédias.

3 comentários:

Camila S. disse...

"a fala é uma de minhas piores tragédias". A mim também. Preciso de um decodificador de pensamentos para não precisar me roer até chegar à superfície da alma.

Anônimo disse...

"a fala é uma de minhas piores tragédias" [3]
acho que eu teria vários problemas a menos se soubesse me expressar direito =P
Enfim, bom te ver de volta aqui =]

A gata por um fio disse...

falar é triste

a fala para mim também é uma tragédia, por isso escrevo...