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Ele colocou um pé. E depois o outro. Não se sentia nem um pouco seguro, mas não sairia de lá sem um tombo ou outro. Era especialista em tombos; esperava por eles ao correr do dia. A bicicleta enferrujada rangeu no asfalto, quase gritando sua liberdade, gozando seu movimento depois de tantos anos parada na umidade escura. O mesmo fenômeno se dava naquele que, vacilante, tentava controlá-la. Um vento salgado e uma palpitação que dava medo. Tentava ir devagar para o coração não bater tanto. Como eu o amava nesse instante. Amava-o também com meu batimento falhado. Com o mesmo horror de sentir-me insuportavelmente vivo. 

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