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dormente

(dedico o vácuo entre estas linhas ao leitor que as corroeu)

a pele oleosa não sabe mais amar
as imperfeições que cobre e revela
as entranhas que acomoda, 
o sangue que espreme

o olhar opaco não sabe mais temer
a luz excessiva
o perdão não dado
e o sentir-lixo: o sentir desperdiçado

ele mesmo se despreza
ele mesmo não se sente
o sentimento reciclável não sabe mais se reconhecer
nos espelhos
nos banheiros públicos
no cinema de rua

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