106

olhos secos

A máquina, os botões, as letras. A ausência de vida me conduz, pela mão, à escrita, ao torpor, ao maior dos embasbacamentos. O segundo caderno. Pedaços sujos de papel barato me lembram questou numa metrópole. É com desespero que a busco. Procuro o teatro, procuro o museu, me perco em labirintos de cinema e meias-entradas. Sou uma metrópole - algo que nego. Essa definição nunca me satisfez, o anseio pela calma é maior; a busca do meu interior começa na busca pelo interior, a falsa cidade, o campo ainda visível. Mas hoje acordei, acordei jornal, acordei barata, e não estranhei - pelo contrário, quero mais, quero encharcar o espírito com tudo que não seja eu, quero me anular, quero a cidade, o pulso, a planta morta, o cansaço, a espera, o saudável e diário suicídio. Quero a cidade.

Nenhum comentário: